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Doria, não se come uma comida que sua avó não reconheça

Claudia Lima

20/10/2017 04h00

Foto: Rosanna Perroti/Divulgação

Como diria o jornalista americano Michael Pollan em seu livro "As Regras da Comida", "Não coma nada que sua avó não reconheceria como comida". Ou "Evite produtos alimentares que contenham ingredientes que nenhum ser humano normal teria na despensa". "Evite alimentos que estejam fingindo ser o que não são".

Eu poderia começar este texto com as 64 regras que ele prega no livro, apenas para comentar o assunto que está dando o que falar nesta semana. Você também deve ter ficado estarrecido com a notícia de que a partir deste mês as escolas iriam oferecer um granulado como alternativa a ser usada na merenda de escolas da cidade de São Paulo certo? Em um vídeo de divulgação do programa "Alimentos para Todos", de combate ao desperdício e à fome, o prefeito de São Paulo João Dória disse que a tal "ração" (como vem sendo chamada) era um produto "abençoado". Sério mesmo? Só para a gente entender, o tal granulado ou ração é feito de farinata, uma espécie de farinha que utiliza alimentos que iriam para o lixo por estarem fora de padrões de venda ou próximos ao vencimento.

Nem preciso dizer que estas regras da comida deveriam ser divulgadas e repetidas à exaustão. Primeiro pra deixar bem claro que fornecer esse tipo de alimento seja na merenda escolar ou para qualquer pessoa é um absurdo. Gente come comida. Segundo, porque quão mais barato, ou quanto menos de desperdício se terá utilizando esse tipo de suplemento?

"Considero um retrocesso esta decisão. As cozinheiras adoram o treinamento, os alunos amam as comidas… Não entendo este pensamento. Desperdício? Você pode criar educadores para que isso seja sanado. E daria para abrir restaurantes com estes alimentos. Decisões como esta precisam ter o aval da população e respaldo de especialistas", diz a chef Janaína Rueda. Desde julho de 2015, ela vem trabalhando junto a merendeiras de escolas estaduais ensinando, uma vez por semana, como preparar comida de verdade e oferecer refeições melhores, mais nutritivas e simples para os estudantes. Claro que utilizando alimentos frescos.

O primeiro passo foi tirar imediatamente nuggets, salsichas e pauches – carne pasteurizada embalada em alumínio que pode durar até um ano fora da geladeira. Depois, foram implementadas receitas à base de carne, frango, peixe, grãos integrais, verduras e legumes. Os pratos vão de estrogonofe, carne de panela e feijoada, a arroz integral com lentilha, arroz mexidinho e uma opção vegetariana todas as segundas-feiras. Além disso, Janaína supervisiona o que vem sendo feito debate com as nutricionistas e conversa com os alunos sobre a importância de comer bem e a história da cozinha brasileira.

Hoje, perto de 500 mil alunos já prova deste cardápio nas escolas da capital. A meta é chegar aos 2 milhões e 500 mil até 2019, e transformar não apenas a alimentação da escola mas em casa também, ensinando a replicar estas receitas em casa.

Ou seja: quando se quer, se pode fazer muito, melhor, mais saboroso e sem a conta pesar tanto no final. A economia doméstica está aí para provar.

Sobre a autora

Jornalista formada pela PUC-SP, Claudia Lima sempre esteve às voltas com as panelas e música. Trabalhou em veículos como Folha de S. Paulo, Revistas Tpm e Trip, Gol e Veja São Paulo. Criou e coordenou o canal de notícias e receitas UOL Comidas. Hoje, resgata suas memórias com sua empresa "Doces Bárbaros da Clo", especializada em bolos e sobremesas.

Sobre o blog

Um espaço para quem ama saber novidades da gastronomia e quer aprender a fazer receitas simples, práticas e gostosas. Sem afetação!